Sabemos que é através dos sentidos que vamos interiorizando
informações e que vamos percebendo o mundo que nos rodeia. Quando estes falham
ou ficam alterados, o acesso ao mundo fica perturbado não possibilitando a
correta percepção e interação.
A integração sensorial é então o processo pelo qual o cérebro
organiza as informações de modo a dar uma resposta adaptativa adequada. É um
processo de organização das sensações do próprio corpo e do ambiente de forma a
ser possível o uso eficiente do mesmo no ambiente. As nossas capacidades de processamento sensorial são usadas para a
interação social; o desenvolvimento de habilidades motoras e para a atenção e
concentração.
O PROCESSAMENTO
SENSORIAL inclui
a recepção de um estímulo (Registro Sensorial),
a transformação do estímulo num impulso neurológico (Orientação),
a percepção consciente do estímulo (Interpretação) para
então a execução uma resposta adaptativa adequada. As funções de processamento
sensorial ocorrem num continuum e de uma forma rápida e inconsciente.
(Um exemplo deste processo é a reação após tocar numa superfície quente)
Todos temos dificuldade em processar determinados estímulos
sensoriais (um certo toque, um cheiro, paladar, som, movimento, etc) e todos
temos preferências sensoriais. Só se torna um transtorno do processamento
sensorial, quando estamos em extremos do continuum, ou seja, torna-se uma "experiência perturbadora,
desagradável”, com flutuações imprevisíveis que exercem um
impacto significativo nas atividades do dia-a-dia e na capacidade de desenvolvimento.
É essa ruptura que gera uma disfunção neurológica chamada Transtorno
do Processamento Sensorial.
O Transtorno do Processamento Sensorial podem afetar negativamente
o desenvolvimento e as habilidades funcionais, quer sejam no comportamento,
motoras, cognitivas, quer sejam ao nível emocional.
O Transtorno Sensorial poderá:
- Afetar o
comportamento da criança (ex: impulsivas, desatentas, distraindo-se
facilmente);
- Prejudicar os seus
movimentos (nível de atividade alto ou baixo, descoordenado ou desajeitado,
caindo e tropeçando frequentemente);
- Influenciar a sua
capacidade de aprendizagem (dificuldade em concentrar-se, perturbar-se com os
ruídos, distrair-se com estimulação visual);
- Influir na sua relação com os outros e a sua autoimagem
(dificuldade em relacionar-se com crianças da mesma idade, demasiado sensíveis
ou críticos, demasiado ansiosos ou receosos, tendendo a isolar-se ou
frustrar-se facilmente). Pode impedir uma criança de brincar e de experienciar
as interações fundamentais para a aprendizagem e interação social.
O medo, ansiedade ou desconforto que acompanha estas situações cotidianas
podem perturbar significativamente as rotinas diárias no ambiente familiar e
escolar.
Os pais podem ter dificuldades em lidar com os problemas
decorrentes do processamento sensorial, muito antes das crianças ingressarem no
ensino escolar! Estes distúrbios podem tornar-se mais evidentes quando a
criança entra na escola (educação infantil) e podem persistir na idade adulta.
A função principal dos sistemas sensoriais é realizar a tradução
da informação contida nos estímulos ambientais (externos e internos) para a
linguagem do sistema nervoso (sentir calor, detectar odores desagradáveis, sentir
quando se está desequilibrando, quando se deve fazer força ou pegar algo
suavemente para não amassar, etc.).
As alterações podem ocorrer num ou em todos os sistemas
sensoriais, incluindo táctil, auditivo, visual, gustativo, olfativo,
proprioceptivo e vestibular.
São esses sentidos que
devem ser avaliados com cuidado:
- Tátil: o sentido do
tato; resposta dos receptores da pele sobre o toque, pressão, temperatura, dor
e movimento dos pelos sobre a pele.
- Auditivo: contribuição relativa
aos sons, a habilidade de perceber corretamente, discriminar, transformar e
reagir a sons;
- Oral: Relativo à boca, a habilidade de
perceber corretamente, discriminar, processar e responder aos paladares ou a
estímulos dentro da boca;
- Olfativo: relativo ao cheiro, uma habilidade de
perceber corretamente, discriminar, processar e responder a diferentes odores.
- Visual: relativo à vista, a habilidade de
perceber corretamente, discriminar, processar e responder ao que se vê.
- Vestibular: situado no ouvido interno responsável
sobre as reações ao movimento e equilíbrio.
- Proprioceptivo: o
sentido da "posição". Como o cérebro interpreta a posição do corpo,
peso, pressão, alongamento, movimentos e alterações na posição. A capacidade de
perceber espacialmente, cada segmento corporal em particular ou o corpo como um
todo, tanto em situações estáticas como nas atividades que demandam movimento
(dinâmicas).
Todos temos alguns tipos de preferências sensoriais e talvez até um
leve um caso de "disfunção". No entanto, é a frequência, intensidade,
duração e impacto funcional desses sintomas o que determina a disfunção.
Para concluir, é
importante reter que:
- A integração
sensorial é uma desordem neurológica, não uma criança mimada, um produto de uma
má educação, criança desafiadora.
- São reações a
estímulos sensoriais específicos. É relativo a entrada, organização e
utilização das informações sensoriais para interpretar o seu ambiente e fazer o
corpo reagir e estar de prontidão para aprender, mover, regular os níveis de
energia e emoções, interagir e desenvolver-se adequadamente.